sexta-feira, 19 de junho de 2009

Contos nem tão curtos - Série 2 - Eu, eu mesmo e as loiras!

De repente, em meio ao nada, ou melhor, num lugar onde o cenário era praticamente idêntico ao do filme ''Era do Gelo 2'' - neve, neve e somente, neve, estavam reunidas cinco pessoas, dentre elas, eu.
Enquanto recebia belos tapas de ventos refrescantes, me deparei com mais quatro nêgos que nunca, sequer, tinha visto. Um deles era preto, barba grisalha e cara de quem também não sabia porque caralhos estava ali. Além disso ele se parecia muito com o Morgan Freeman. Havia também duas loiras. Não pude reparar muito bem em seus rostos porque, automaticamente, meus olhos se voltavam a outras partes bem mais interessantes. É possível pensar em sexo até quando se está num lugar longínquo, mesmo sem saber exatamente a distância que este lugar está da sua casa.
O último cara, digo último porque foi o último a que fui notar a presença, era um gordinho, daqueles que só queriam um pedaço de bolo de chocolate ao invés de estar ali passando um frio descomunal.
Enquanto tentávamos nos localizar e procurar entender o porque estávamos ali, juntos, vivenciando um episódio de Lost, chegou um rapaz alto, com roupas esfarrapadas e a cara em bugalhos. Era um zumbi na nossa frente. Eu estava realmente com medo e abrindo e fechando os olhos em busca de acordar daquele pesadelo medonho.
O zumbi de cara fudida não estava sozinho, trazia consigo mais três mortos-vivos tão bonitos e bem-vestidos quanto ele. Apesar das feições, eles se mostraram totalmente simpáticos e receptivos, tanto que até se apresentaram, ou ao menos tentaram fazer isso através de sons irreconhecíveis.
De qualquer forma o zumbi vestido de pinguim sabia se mexer e nos apontou um caminho cujo qual seguimos. Já que estávamos ali sem saber o porque, fomos atrás deles e nos deparamos com um enorme paredão de gelo, tão grande que tampou a luz, propiciando uma escuridão da porra. Os zumbis realizaram um mutirão para raspar o gelo do paredão. Surge um bunker!
Eu até comecei a gostar da ideia, o troço estava realmente se tornando interessante e as loiras ainda mais.
A porta do bunker era de aço escovado, uma lindeza, mais se parecia com uma panela de inox abandonada séculos antes de uma era glacial. O pinguim semimorto tocou a porta com os dedos e esta se abriu, mostrando-nos um puta, mas um PUTA espaço rouge. Luxuoso até os cantos, divãs vermelhos, carpetes impecáveis e diversos sofás também vermelhos espalhados em todo o lugar. Era como se eu tivesse descoberto a casa secreta do Chiquinho Scarpa, com exceção das bebidas, drogas e comida farta. E, por sinal, eu estava faminto. Mas o que é uma farpinha no dedo para quem tem um tronco enfiado no rabo? Meus olhos continuavam desbravando aquele negócio e logo minha fome havia sumido completamente. Foda-se a fome, eu estava curtindo férias de inverno numa mansão secreta com novos amigos.
- Vocês são irmãs? - perguntei a uma das loiras.
- Não sei. - ela respondeu.
- Vocês são lésbicas?
- Sim, somos. Como você sabe? - retrucaram.
- Não sei também. Foi apenas um chute que não deu muito certo. Nos vemos por aí. - respondi em tom desanimador.
- Que babaca. - disse uma delas.
Sendo assim, continuei vislumbrando aquele casarão do caralho e fiquei esperando pela próxima atração. Ainda não tinha desistido totalmente das loiras filhas da puta.
Eis que um dos zumbis, como num passe de mágica, resolve abrir outra porta, da qual dava para um espelho gigantesco, onde podíamos ver a todos que estavam presentes na casa.
De repente, como num outro passe de mágica, os nossos reflexos surgiram em nossas frentes, em carne, osso e roupas. Com exceção dos zumbis, que estavam sem parceiros gêmeos, todos ficamos embasbacados com o que víamos. Eu gritei FILHO DA PUTA umas três vezes, as loiras começaram a chorar, o gordo continuou sem expressão e o Morgan Freeman olhou para mim não sei porque. Olhasse para o próprio reflexo, porra. Como se eu fosse mais interessante, Morgan FREE MAN bichona.
Os zumbis saíram de cena, simplesmente sumiram. O bagulho tava realmente tenso. Se eu já não estava entendendo nada até aquilo acontecer, daí em diante eu me senti um boçal sortudo ou azarado, sei lá. Não conseguia compreender porra nenhuma, de verdade, e continuava a abrir e fechar os olhos pra ver se despertava. Nada também. Só o EU sorridente na minha frente.
Cansei daquela merda, gritei FILHO DA PUTA mais três vezes e encarei meu espectro, ou seja lá o que fosse. Quando percebi, o cara, no caso meu irmão gêmeo, era de carne e osso mesmo. Podia tocá-lo e tudo mais. E o pior, o cara falou comigo. Puta que pariu, que raios acontecia comigo? Comigo, com as loiras, com o gordo, com o Morgan. Por que nós estávamos ali, por que uma porrada de estranhezas? Freak show danado. E aquilo não era o Daime.
- Cara, você é eu, eu sou você, ou você tá tirando com a minha cara? - perguntei pra ''mim''.
- Pô, lindo. Tanto faz. - ele respondeu.
- Então você tá tirando com a minha cara, cuzão?
- Sim, ué.
Depois deste breve diálogo percebi que ele era eu mesmo, duplicado e feio a valer.
Comecei a gostar daquilo novamente, estava confuso, mas já não tão abismado. Por isso decidi dar um rolê pela casa comigo mesmo e trocar umas ideias.
- Cara, sabe porque eu, você e todos os outros estão aqui? - perguntei.
- Não, mas já estive aqui antes. Aliás, você também. - respondeu.
- Como? Não me lembro.
- Certa vez, infelizmente não recordo de data nem nada. Você sabe que dia é hoje?
- Não.
- Pois é.
- Mas o que aconteceu da outra vez que estivemos aqui?
- Nada demais. Você se assustou comigo como fez agora, gritou FILHO DA PUTA umas três vezes e saímos para conversar. Exatamente como estamos fazendo neste momento.
- Mas, porra, eu já estive do mesmo lado que estou agora. Que merda! Você não se assustou comigo?
- Não. Cada um com seu papel, mano. Você deste lado e eu do meu. Não sei porque, mas posso falar isso porque tenho mais experiência.
- Mas eu apenas não me lembro.
- Pois é. Você é a parte disléxica de mim, ou de você, tanto faz. Você entendeu.
- E você é o lado espertalhão cuzão de mim, ou de você, tanto faz?
- Sim, ué.
- Cuzão!

Enquanto falávamos nada com nada, íamos andando e ao mesmo tempo observando o lugar. Passando pelos corredores, avistei num dos cômodos o gordo. Ele também estava com seu respectivo eu redondo. Meu irmãozão não parava de falar groselha - ele tava chato pra caralho -, e eu não estava dando atenção porque queria reparar no que o pelotinha estava fazendo. Percebi algo doentio: ele segurava carinhosamente os braços de seu eu e, não sei porque diabos, parecia que ele o estava quase beijando. Mais nojento que encoxar a mãe no tanque é foder com você mesmo, digo... de verdade. Isso não se faz!
Eles realmente estavam prestes a fazer isso. Estavam ambos pegajosos e cheios de carinho. Do outro lado do StarGate o filho da puta devia ser um virgem viciado em vídeogame e aproveitara o momento para curtir uma experiência homossexual e nojenta longe das vistas da mamãe.
Me senti enojado e questionei meu eu sobre o fato.
- Cara, que porra é essa?
- Isso costuma acontecer, da outra vez isso ocorreu com um velho, bem velho mesmo, tanto que dava a entender que encontraria o barba horas depois. Estava um trapo.
- E qual foi sua reação ao ver o velho querendo trepar com ele mesmo?
- Nenhuma. Tento não pensar a respeito, apenas vejo.
- Se você vier com viadagem, eu conto pra mãe.
- Fica tranquilo.
- Acho possível que este pico seja um espaço de auto-conhecimento, onde tudo é permitido desde que a mente também permita. Neste caso, as demais pessoas dentro da casa estão se descobrindo, assim como nós, de acordo com a personalidade e a essência de cada um. - replicou o eu.
- Certeza de que eu não fui dormir breaco e estou tendo este sonho tenebroso? - questionei.
- Pode ser. Às vezes a nossa embriaguez ativou uma espécie de portal com esta realidade.
- Mas eu não apenas bebi.
- Indiferente, porra. Você entendeu.
- Entendi sim, claro.
Depois que ele me disse isso, vomitei em um dos cantos. Me senti nauseado, não sei o que se passava, mas o negócio tinha sido brabo.
Decidi então dar um rolê a mais pela casa, que demonstrava ter cômodos infinitos. Meu objetivo era achar as loiras. Se eu tivesse que conhecer algo, que fosse então um sexo a três com duas loiras. Isso, até então, era desconhecido pra mim.
Só que eu apenas andava em vão. Nada das malditas. Inclusive, nem o Morgan achei. Era muito azar mesmo ter visto um gordinho querendo auto-sexo ao invés de ter encontrado as loiras. Os minutos foram se passando lentamente e, nisso, mal percebi que meu eu não estava mais caminhando comigo. Ele tinha sumido! Comecei a correr pelos corredores da casa e nada de achar ninguém. Estava caminhando a esmo, até que parei na sala onde tudo tinha começado. Todos tinham vazado e me deixado ali sozinho e com vontade de vomitar. Grandes FILHOS DA PUTA, e isso inclui o meu eu cuzão.

Passou-se um tempão e eu continuava dentro do casúlo glamour. Não sei ao certo quanto tempo fiquei lá, talvez três ou quatro dias. A contagem é meio absurda, pois lá não havia relógio. Durante este período trancado numa realidade bem esquisita, eu fiz de tudo, isso inclui inúmeros pensamentos e ações. Dava voadoras nas paredes, berrava aleatoriamente pra ninguém, batia punheta a rodo, vomitava - isso era devido às náuseas, comia restos de comida que haviam na geladeira, bebia água achando que era vinho ou whisky, jogava bilhar sozinho e dormia muito. Vivi uma espécie de terapia do buraco passando algum tempo isolado e cercado com os fantasmas da minha minha mente. Se isso me fez bem, não sei ao certo. Não distinguo certo do errado ou vice-versa.

De qualquer forma, voltei à realidade ''comum'' da mesma forma que fui parar na mansão do Chiquinho Scarpa, e ainda penso furioso sobre como não consegui comer aquelas duas vaquinhas loiras.













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