segunda-feira, 27 de julho de 2009

Os dois e mais alguém

Pobres daqueles que me olham

Pobres daqueles pra quem estou olhando


falam, gritam, levantam as sobrancelhas, passam a língua nos lábios

exalam cheiro, somem diante de tantos que transitam na calçada

voltam com outros cheiros, falam, levantam os cotovelos


Pobres daqueles que me olham

Pobres daqueles pra quem estou olhando


sinto o cheiro que me deixa com náuseas

olho acima da minha cabeça a procura de outro aroma

ela coloca a blusa na cadeira, ele torna a olhar de modo desconfiado, como todos os dias

busco uma posição mais cômoda pra continuar fazendo o mesmo


Pobres daqueles que me olham

Pobres daqueles pra quem estou olhando


o telefone toca de repente como um choro de criança no meio da madrugada

ouço agradecimentos ao final do diálogo

sabe exatamente como dizer o que quer, na hora que convém


Pobres daqueles que me olham

Pobres daqueles pra quem estou olhando


O cinza do paletó cobre o pálido corpo

ela coloca a blusa novamente, ele olha de modo desconfiado quando alguém entra

sabe brincar com suas feições e atitudes


Pobres daqueles mortos que me olham com a cabeça baixa e fazem a mesma pergunta:

''você tá bem?''

Pobres daqueles mortos pra quem estou olhando.

1 comentário:

  1. Querido irmão de caminhada infinitas, de geleiras e gelo.. que esfria e queima. Tudo em nós é muito simples... como a tia velhinha de 150 anos no jornal cujos caminhos são guiados pelo aperto que sente no peito... Se a atmosfera lhe compele uma espécia de angustia é a emoção dizendo, "hora de ir embora"... o mesmo para quando o peito se abre e a vida se completa... esse é o verdadeiro lugar de nascimento... sairemos dessa e caminharemos juntos caminheiro.! dom

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